A filosofia esotérica afirma que há na
natureza uma escala de odores, e que ela é similar à escala de sons e ao
espectro das cores. Este princípio filosófico e alquímico está ligado
à moderna ciência da aromaterapia.
Ele se baseia
na constatação de que a combinação de certos aromas tem efeitos físicos,
emocionais e morais de caráter benéfico e curativo. Isso explica, por exemplo,
o uso milenar de incensos, como prática que facilita a elevação da consciência
durante meditações e reflexões.
Em
aromaterapia, para citar um exemplo, o eucalipto é visto como uma árvore cujo
cheiro tem o efeito de libertar da preocupação, da melancolia e da tristeza.
Diferentes aromas e óleos essenciais produzem os mais diferentes efeitos
benéficos sobre a consciência humana. O filósofo
romano Lúcio Sêneca parece haver conhecido a aromaterapia. Aparentemente, ele
também percebeu que a “terapia dos aromas” pode atuar não só a partir do plano
físico para a alma, mas também tem efeitos quando se irradia da alma imortal
para os planos inferiores da vida.
Porque Sêneca escreveu:
“Há certos componentes medicinais que,
sem serem degustados ou tangidos, agem pelo odor. Assim é a
virtude. Sua utilidade, mesmo à distância e escondida, exala, seja ela
efervescente e desimpedida de qualquer coação, seja ela cerceada em sua expansão
ou obrigada ao toque de recolher. Ainda que inativa, tácita, presa com
rigor total ou aberta com plena naturalidade, ela, em qualquer hipótese, é
frutífera.”
A virtude, no
sentido clássico, não significa submissão hipócrita e aparente a um dogma
externo. Longe disso. A virtude é o dharma, o dever interior, a natureza
essencial de um ser humano. O ser que tem virtude é aquele que está ligado à sua
própria essência.
Hui-neng, o
sexto patriarca do budismo Zen, nasceu no ano de 638 e morreu em 713 da era
cristã. Assim como Sêneca, ele tinha noção clara da importância de uma vida
austera e digna.
Hui-neng ensinou o caminho da sabedoria usando a metáfora
dos perfumes espirituais. Em certa ocasião, falando a
uma grande quantidade de pessoas que se haviam reunido para ouvi-lo, ele ensinou
sobre cinco perfumes sutis:
1) “O primeiro é o perfume da moralidade. Quando não há erro em
nossa própria mente, quando não há mal, nem inveja, nem ciúme, nem cobiça ou
ódio, nem roubo ou agressão, isso é chamado de perfume da
moralidade.”
2) “O segundo é o perfume da estabilidade. A capacidade de ver
as características boas e más dos objetos sem que haja perturbação em nossa
própria mente é chamada de perfume da estabilidade.”
3) “O terceiro é o perfume da sabedoria. Quando a nossa própria
mente não tem obstrução, e sempre observa com lucidez a nossa própria natureza,
não fazemos nada que seja mau. Mesmo quando fazemos algo bom, nossa mente não se
apega a isso. Respeitosos em relação aos mais velhos e amáveis em relação aos
mais jovens, somos simpáticos e solidários para com os que sofrem e os que são
pobres. Isso é chamado de perfume da sabedoria.”
4) “O quarto é o perfume da libertação. Quando a nossa própria
mente não se fixa em objetos, não pensa no que é bom, não pensa no que é ruim,
está livre e não-obstruída, isso é chamado de perfume da
libertação.”
5) “O quinto é o perfume do conhecimento e da visão libertados.
Quando nossa própria mente não está fixada em nada, nem no que é bom nem no que
é mau, ela não se afunda na vacuidade mas se mantém na quietude. Devemos estudar
amplamente e aprender muito, reconhecer a nossa própria mente original e dominar
os princípíos dos Buddhas, harmonizar a iluminação com o modo de lidar com as
pessoas, estar livres da personalidade egoísta, e ser imutáveis até alcançar a
verdadeira natureza da iluminação. Isso é chamado de perfume da visão e do
conhecimento libertados.”
E Hui-neng
concluiu:
“Bons amigos,
esses perfumes são efeitos internos dentro de cada indivíduo. Não os busquem
externamente”.
Há quem ignore
o fato de que uma vida simples e pura possibilita a estabilidade mental e
emocional. Alguns não sabem que a estabilidade permite o surgimento da
sabedoria. Desconhecem que a sabedoria abre as portas da liberdade interior.
Conhecer este
caminho, porém, não é algo que se faça com palavras. Tal conhecimento só pode
ser adquirido vivencialmente, passo a passo e com esforço próprio. O caminho da
sabedoria é longo e requer atenção. A vida testa, o tempo todo, o discernimento
do aprendiz.
A aromaterapia do
espírito é uma ciência complexa, e é preciso estar constantemente atento para
conhecê-la a fundo e assim produzir os odores morais que mudam a vida para
melhor.
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