sexta-feira, 8 de abril de 2016

AUTO CONTROLE

SEGUIR ENFRENTE SIGNIFICA SEGURAR AS RÉDEAS DE SUA PRÓPRIA VIDA...(Arcano 7)
Fotografia: Colônia de Sacramento/ Uruguai.
Na tradição chinesa se faz uma analogia do caminho – o tao – com uma estrada que é percorrida por uma carruagem. Esta carruagem representa nosso corpo físico. Sua carroceria possui uma estrutura mais ou menos robusta, mais ou menos preparada para trilhar pelo menos uma parte do caminho. Possui quatro rodas, duas anteriores – os braços – que apontam a direção do caminho e duas rodas posteriores – as pernas – geralmente mais fortes, maiores, pois servem para sustentar todo peso da carruagem.
A carroceria é puxada por dois cavalos, um negro e um branco, que representam nossas emoções em sua dupla polaridade Yin/Yang. E é conduzida por um cocheiro – nosso discernimento – , que do alto segura as rédeas, símbolo da vontade que permite dirigir as emoções.
Para completar o quadro, no interior da carruagem, oculto, se encontra o senhor, o mestre, dono de tudo. Este representa nosso íntimo, aquela voz sutil, quase silenciosa, de quem falava Sócrates, Paracelso e outros tantos sábios do mundo. O mestre conhece não só a estrada, como conhece o lugar que deve chegar, além de conhecer profundamente o cocheiro, os cavalos e também a carruagem.
Eles se deslocam pela estrada, que como qualquer outra possui buracos, atoleiros e marcas de rodas das outras carruagens que já passaram por ali. Estas marcas e trilhas são os esquemas e as regras que os outros definem por nós, sobre o que é certo e errado no caminho, para onde se deve ir e como se deve trilhar. Não cair nestas trilhas é tarefa que depende da atenção do condutor, pois se ele afrouxa demasiadamente as rédeas pode ser que a carruagem naturalmente entre nestes sulcos traçados, fazendo com que se perca o controle da própria viagem, sem considerar que a permanência nestas trilhas pode acabar fazendo desviar do lugar onde verdadeiramente o mestre ou amo pretende chegar.
Também se o cocheiro não sabe conduzir a carruagem de forma suave e tratar bem aos cavalos, pode ser que a carroceria estrague ao longo do caminho ou os cavalos adoeçam ou ainda se rebelem e resolvam conduzir-se à revelia. Como é próprio de todo caminho, os buracos e atoleiros vão deteriorando a carruagem, que com certa frequência necessitará de reparos e muitas vezes até a intervenção de alguém que a conserte.
Sempre que a estrada estiver muito esburacada, será necessário cuidado redobrado com os cavalos e com a carroceria, para que possam retomar a viagem tranquilamente, sem grandes prejuízos. Em situações de extrema neblina ou em curvas muito fechadas, que praticamente não se sabe para onde vai a estrada, é sempre prudente que o cocheiro diminua a velocidade, controle os cavalos através das rédeas para que não disparem e vá se conduzindo pelos limites da própria estrada, para que não acabe saindo dela. A estrada determina o ritmo e ela sempre mostra a melhor forma de atravessá-la, para quem a observa atentamente.
Porém em certos momentos pode ocorrer da estrada se dividir. Diante de dois caminhos, qual deles seguir? Se o cocheiro supõe conhecer muito bem o caminho, ter estudado muito bem os mapas da viagem, pode acabar tomando esta decisão por conta própria, o que nem sempre seria adequado, pois muitas vezes as encruzilhadas que se apresentam não aparecem nos mapas que nos indicaram no início da viagem. Porém o mestre, que se encontra no interior da carruagem conhece como ninguém esse caminho. Dialogar com ele, perguntar-lhe para onde ir pode poupar um bom tempo de viagem e evitar muitos perigos. Porém sabemos que muitas vezes a carruagem é extremamente barulhenta em seu percurso, de modo que é necessário parar para poder estabelecer este diálogo com o mestre e então, uma vez tendo ouvido suas palavras, tomá-las como uma bússola para orientar a escolha do caminho.
Interessante notar que a parábola da carruagem aparece em outras culturas e tradições, como na escola do Quarto Caminho, ensinado por Gurdjieff , no gnosticismo contemporâneo e tem ainda sua imagem estampada na sétima carta do Tarô
(Arcano 7).

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